Retirado de Mercado Ético
A ideia generalizada de que os países em desenvolvimento devem escolher entre conter a mudança climática e lutar contra a pobreza é equivocada, afirmam os autores de um informe sobre as possibilidades e perspectivas do crescimento verde. A Comissão Global sobre Economia e Clima, presidida pelo ex-presidente mexicano Felipe Calderón, apresentou no dia 16, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, o documento A Nova Economia Climática (NCE).
Trata-se de uma iniciativa independente criada por Colômbia, Coreia do Sul, Etiópia, Grã-Bretanha, Indonésia, Noruega e Suécia, que prevê compartilhar o conteúdo do documento com autoridades e governantes em um próximo período de consultas. “O documento passa uma mensagem clara aos governos e ao setor privado: podemos melhorar a economia e ao mesmo tempo enfrentar a mudança climática. O futuro crescimento econômico não tem motivo para copiar o caminho das altas emissões de carbono seguido até agora”, destacou Calderón.
Concentrando-se no conjunto, mais do que em países isolados, o informe traça o caminho que a economia mundial deve tomar nos próximos 15 anos. Para melhorar a vida dos pobres e reduzir as emissões de carbono até concentrações que sejam mais seguras, é preciso produzir uma grande transformação. Mas aqui está a surpresa: custará muito menos do que o esperado.
No contexto de que tudo continue como está, o mundo investirá cerca de US$ 89 trilhões em infraestrutura urbana, agrícola e para gerar energia nos próximos 15 anos, afirma o documento. Mas o caminho com baixas emissões de carbono exigirá US$ 94 trilhões no mesmo período e seus benefícios para reduzir a escassez de recursos e melhorar a qualidade de vida compensariam de sobra a diferença. A janela das oportunidades não permanecerá aberta por muito tempo.
Em termos de sistemas urbanos, o encarregado de programas globais do informe, Jeremy Oppenheim, explicou que “nosso principal interesse foi como gerar maior produtividade nas cidades melhorando os sistemas de transporte.
A expansão urbana é o inimigo quando se trata de construir cidades que respeitem o ambiente. Por exemplo, Barcelona (Espanha) e Atlanta (Estados Unidos) têm ambas cinco milhões de habitantes, mas, na primeira, se concentram em 162 quilômetros quadrados, enquanto na segunda em 4.280 quilômetros quadrados. Isso faz com que a cidade norte-americana emita dez vezes mais dióxido de carbono por pessoa do que a espanhola.
As cidades eficientes costumam ter melhor comportamento ambiental e econômico. Os países de baixa renda devem “construir bem sua infraestrutura da primeira vez para se urbanizarem com uma alta produtiva”, explicou Oppenheim. No que diz respeito à agricultura, o segundo sistema, “cremos que é possível aumentar a produtividade em mais de 1% ao ano”, acrescentou.
O informe NCE diz que “restabelecer 12% das terras degradadas poderia servir para alimentar cerca de 200 milhões de pessoas em 2030, ao mesmo tempo em que fortaleceria a resiliência climática e reduziria as emissões contaminantes”. O documento também recomenda que os governos detenham o desmatamento das florestas naturais para esse ano e recuperem pelo menos 500 milhões de hectares degradados e terras cultiváveis.
Quanto ao terceiro sistema, a energia, a maior oportunidade econômica e ambiental virá ao se abandonar o uso generalizado do carvão, que não é tão eficiente do ponto de vista econômico como se pensava, especialmente porque os problemas de saúde causados pela contaminação reduzem a renda nacional em 4% ao ano, em média.
O documento recomenda parar a construção de novas usinas a carvão imediatamente nos países ricos e até 2025 nos de renda média. O gás natural pode servir como medida provisória por um curto período, mas também terá que dar lugar a alternativas com baixas emissões de carbono. “Estamos surpresos pelo avanço alcançado em matéria de energias renováveis. O custo da alternativa solar baixou 90% nos últimos cinco anos”, apontou Oppenheim.
Mas as autoridades terão que tomar algumas decisões significativas para facilitar a mudança. Atualmente o mercado está distorcido pelos subsídios aos combustíveis fósseis. Segundo o informe, os subsídios estatais chegam a US$ 600 mil, enquanto os das alternativas limpas atingem apenas US$ 100 mil. “Precisam desaparecer”, opinou Nicholas Stern, vice-presidente da Comissão. “Passam um sinal equivocado. Incentivam o uso de combustíveis fósseis contaminantes e subsidiam o dano”, ressaltou.
É possível que o informe NCE seja um dos documentos sobre mudança climática mais otimistas já saído das Nações Unidas em anos, mas seus autores reconhecem que suas recomendações podem ser difíceis de serem seguidas. “O documento se concentra em reformas benéficas para todos a fim de fortalecer o crescimento, reduzir a pobreza e melhorar o bem-estar, e também ajudar a enfrentar os riscos climáticos”, destacou Milan Brahmbhatt, do Instituto de Recursos Mundiais. Porém, benéficas para todos não significa dizer que são fáceis de serem implantadas, acrescentou.
A apresentação do informe aconteceu uma semana antes de começar a Cúpula sobre o Clima, que reunirá uma quantidade sem precedentes de governantes que comprometerão publicamente seus esforços nacionais para mitigar as consequências da mudança climática. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, espera conseguir vontade política suficiente para obter um acordo vinculante nas negociações do próximo ano em Paris.
O informe cobre apenas 15 anos, “mas depois de 2030 as emissões globais deverão ser reduzidas até quase zero na segunda metade do século”, diz o estudo. Pode ser que o documento não cubra tudo, mas tranquiliza os governantes sobre as enormes possibilidades de crescimento verde.
Calderón acredita que as mensagens otimista e prática do informe terão grande impacto. “Com esse documento, agora temos um conjunto de instrumentos que os governantes poderão utilizar para promover o crescimento que todos necessitamos, ao mesmo tempo em que reduzem os riscos climáticos que todos corremos”, enfatizou.