Retirado do Portal Mercado Ético
O jornal britânico The Guardian teve acesso a documentos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) destinados para os cientistas que formam o grupo de trabalho em geoengenharia da entidade e revelou que utilizar essa opção para lidar com as mudanças climáticas está sendo considerada com seriedade.
O grupo de cientistas se reunirá na próxima semana em Lima, no Peru, e tem como principal objetivo fornecer sugestões para os governos de quais tecnologias de geoengenharia seriam mais eficientes e seguras.
Entre as propostas que o IPCC pede para serem avaliadas estão:
– Dispersar aerossóis de enxofre na estratosfera para refletir parte dos raios solares de volta para o espaço;
– Depositar grandes quantidades de ferro nos oceanos para o crescimento de algas que absorvam o CO2;
– Realizar a bioengenharia de culturas agrícolas para que tenham uma cor que reflita os raios solares;
– Suprimir a formação de nuvens do tipo cirrus, que agem acentuando o efeito estufa.
De acordo com o The Guardian, outras medidas que podem ser estudadas são a dispersão de partículas de água do mar nas nuvens para que reflitam os raios solares, a pintura de branco das estradas e telhadas em todo o mundo e diferentes maneiras de capturar e armazenar os gases do efeito estufa.
Apesar das idéias parecerem ficção científica, algumas delas já foram inclusive tiradas do papel. No começo de 2009, um navio de pesquisas alemão carregado com 20 toneladas de sulfato de ferro partiu em direção à Antártica com o objetivo de injetar o material no fundo do oceano. A operação acabou sendo suspensa no último momento pelo governo alemão que atendeu aos pedidos da comunidade internacional.
Realizar projetos de geoengenharia sempre levantou muita polêmica, tanto que em 2010 a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) aprovou uma moratória desse tipo de iniciativa. Entretanto, a moratória permite a continuidade de estudos em pequena escala em circunstâncias controladas.
Mesmo a Sociedade Americana de Meteorologia (AMS), entidade que defende o uso da geoengenharia, alerta que ainda são necessários muitos estudos antes que seja feita qualquer alteração de grande porte nos sistemas terrestres.
“O potencial para ajudar a sociedade, assim como os riscos de consequências inesperadas, exigem mais pesquisas, regulamentações e transparência nas iniciativas”, ressalta a instituição.
Contrários até mesmo a continuidade de estudos sobre o assunto, 125 grupos ambientais e de direitos humanos de 40 países, incluindo a Friends of the Earth International e a Via Campesina, entregaram uma carta nesta semana para o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, alertando que a entidade não tem competência para avaliar a opção da geoengenharia.
“Perguntar a um grupo de cientistas que trabalham com geoengenharia se é preciso fazer mais pesquisas sobre o assunto é igual perguntar se um urso quer mel”, afirma a carta. Segundo os ambientalistas, essa não é uma questão apenas cientifica, é política.
A geoengenharia voltou a ganhar força depois que foi registrado que em 2010 as emissões bateram um novo recorde histórico, apesar de todas as promessas dos governos mundiais. De acordo com a Agência Internacional de Energia, o ano passado registrou a emissão de 30,6 gigatoneladas de dióxido de carbono.
Além disso, o ritmo das negociações internacionais está muito lento, tornando praticamente impossível que seja criado um acordo climático global nos próximos meses.
A própria presidente da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), Christiana Figueres, afirmou que talvez seja preciso adotar tecnologias mais radicais para conter o aquecimento em no máximo 2°C e evitar as piores consequências das mudanças climáticas.
“Nós estamos nos colocando em uma situação onde precisaremos utilizar métodos mais drásticos para retirar as emissões da atmosfera”, concluiu Figueres.
(Instituto Carbono Brasil)